Politica
Sir Anthony Kenny
Tradução de Célia Teixeira
Quando Rousseau começa por dizer “O homem nasce livre, mas em toda a parte encontra-se acorrentado”, quem leu o seu trabalho anterior sobre o efeito corruptor da civilização irá muito provavelmente pressupor que as correntes são as instituições sociais, e que estamos prestes a ser encorajados a rejeitar a ordem social. Em vez disso, é-nos dito que é um direito sagrado, a base de todos os outros direitos. As instituições sociais, pensa agora Rousseau, libertam em vez de escravizar.
Tal como Hobbes e Locke, Rousseau parte de considerações acerca dos seres humanos no estado de natureza. A sua perspectiva acerca desse estado, de acordo com os seus pensamentos posteriores acerca do bom selvagem, é mais optimista do que a de Hobbes. No estado de natureza os homens não são necessariamente hostis entre si. São motivados pelo amor-próprio, seguramente, mas o amor-próprio não é o mesmo que o egoísmo: pode ser combinado, tanto nos humanos como nos animais, com a empatia e a compaixão pelos nossos companheiros. Num estado de natureza um homem só tem desejos simples e animais: “os únicos bens que reconhece no mundo são a comida, uma fêmea e dormir; os únicos males que teme são a dor e fome”. Estes desejos não são tão inerentemente competitivos como o é a procura do poder em sociedades mais sofisticadas.
Rousseau concorda com Hobbes, contra Locke, que num estado de natureza não há direitos de propriedade e, consequentemente, também não há justiça nem injustiça. Mas à medida que a sociedade se desenvolve a partir do seu estado primitivo, a falta de tais direitos começa a ser sentida. A cooperação económica e o progresso técnico tornam necessária a formação de uma associação para a protecção das pessoas e das posses dos indivíduos. Como poderá isto ser feito, permitindo ao mesmo tempo que cada membro da associação permaneça tão livre quanto o era antes? O Contrato Social dá a solução apresentando o conceito