poetas século XIX
Por que ler, hoje, poesias do século XIX ?
Poemas
Amar e Ser Amado
Castro Alves
Amar e ser amado! Com que anelo Com quanto ardor este adorado sonho Acalentei em meu delírio ardente Por essas doces noites de desvelo!
Ser amado por ti, o teu alento A bafejar-me a abrasadora frente
Em teus olhos mirar meu pensamento, Sentir em mim tua alma, ter só vida
Pura, tão puro e celeste sentimento
Ver nossas vidas quais dois mansos rios,
Juntos, juntos perderem-se no oceano,
Beijar teus labios em delírio insano
Nossas almas unidas, nosso alento,
Confundido também, amante, amado Como um anjo feliz... que pensamento!?
Recordação
Gonçalves Dias
Quando em meu peito as aflições rebentam Eivadas de sofrer acerbo e duro; Quando a desgraça o coração me arrocha Em círculos de ferro, com tal força,
Que dele o sangue em borbotões golfeja;
Quando minha alma de sofrer cansada, Bem que afeita a sofrer, sequer não pode Clamar: Senhor, piedade; — e que os meus olhos
Rebeldes, uma lágrima não vertem Do mar d´angústias que meu peito oprime:
Volvo aos instantes de ventura, e penso
Que a sós contigo, em prática serena,
Melhor futuro me augurava, as doces Palavras tuas, sôfregos, atentos Sorvendo meus ouvidos, — nos teus olhos
Lendo os meus olhos tanto amor, que a vida
Longa, bem longa, não bastara ainda por que de os ver me saciasse!...
O pranto Então dos olhos meus corre espontâneo,
Que não mais te verei. — Em tal pensando
De martírios calar sinto em meu peito
Tão grande plenitude, que a minha alma
Sente amargo prazer de quanto sofre.
No alto
Machado de Assis
O poeta chegará ao alto da montanha,
E quando ia a descer a vertente do oeste, Viu uma cousa estranha, Uma figura má.
Então, volvendo o olhar ao sútil, ao celeste, Ao gracioso Ariel, que de baixo o acompanha,
Num tom medroso e agreste Pergunta o que será.
Como se perde no ar