Poemas
(Hora de Delírio)
Não, não é louco. O espírito somente
É que quebrou-lhe um elo da matéria.
Pensa melhor que vós, pensa mais livre,
Aproxima-se mais à essência etérea.
Achou pequeno o cérebro que o tinha:
Suas idéias não cabiam nele;
Seu corpo é que lutou contra sua alma,
E nessa luta foi vencido aquele.
Foi uma repulsão de dois contrários;
Foi um duelo, na verdade insano:
Foi um choque de agentes poderosos:
Foi o divino a combater com o humano.
Agora está mais livre. Algum atilho
Soltou-se-lhe do nó da inteligência;
Quebrou-se o anel dessa prisão de carne,
Entrou agora em sua própria essência.
Agora é mais espírito que corpo:
Agora é mais um ente lá de cima;
É mais, é mais que um homem vão de barro:
É um anjo de Deus, que Deus anima.
Agora, sim - o espírito mais livre
Pode subir às regiões supernas:
Pode, ao descer, anunciar aos homens
As palavras de Deus, também eternas.
E vós, almas terrenas, que a matéria
Ou sufocou ou reduziu a pouco,
Não lhe entendeis, por isso, as frases santas,
E zombando o chamais, portanto: - um louco!
Não, não é louco. O espírito somente
É que quebrou-lhe um elo da matéria.
Pensa melhor que vós, pensa mais livre, aproxima-se mais à essência etérea.
Análise do poema O poema “Louco (hora de delírio)”, escrito por Junqueira Freire, reflete a angústia de seus pensamentos no qual ele trata da morte e da liberdade espiritual, que segundo seu poema, só é atingida após a morte. Expressa em sua obra a tensão entre a vida material, a sua religiosidade e a sua espiritualidade, tensão essa gerada pela desilusão da vida religiosa, cercada e regida por repressões.
Trata da morte como sendo a única forma de se atingir a liberdade plena, abandonando a vida material e rompendo com “a prisão da carne”, forma pela qual ele descreveu em seu texto o que seria a vida na terra.
Presente em sua produção também está à figura de Deus, citado em algumas ocasiões como no trecho que segue, "É um anjo de Deus, que Deus anima." A partir desta