Poemas (pas) terceiro ano
Meus olhos são pequenos para ver a massa de silêncio concentrada por sobre a onda severa, piso oceânico esperando a passagem dos soldados. Meus olhos são pequenos para ver luzir na sombra a foice da invasão e os olhos no relógio, fascinados, ou as unhas brotando em dedos frios.
Meus olhos são pequenos para ver o general com seu capote cinza escolhendo no mapa uma cidade que amanhã será pó e pus no arame.
Meus olhos são pequenos para ver a bateria de rádio prevenindo vultos a rastejar na praia obscura aonde chegam pedaços de navios.
Meus olhos são pequenos para ver o transporte de caixas de comida, de roupas, de remédios, de bandagens para um porto da Itália onde se morre.
Meus olhos são pequenos para ver o corpo pegajento das mulheres que foram lindas, beijo cancelado na produção de tanques e granadas.
Meus olhos são pequenos para ver a distância da casa na Alemanha a uma ponte na Rússia, onde retratos, cartas, dedos de pé boiam em sangue.
Meus olhos são pequenos para ver os milhares de casas invisíveis na planície de neve onde se erguia uma cidade, o amor e uma canção.
Meus olhos são pequenos para ver as fábricas tiradas do lugar, levadas para longe, num tapete, funcionando com fúria e com carinho.
Meus olhos são pequenos para ver na blusa do aviador esse botão que balança no corpo, fita o espelho e se desfolhará no céu de outono.
Meus olhos são pequenos para ver o deslizar do peixe sob as minas, e sua convivência silenciosa com os que afundam, corpos repartidos.
Meus olhos são pequenos para ver os coqueiros rasgados e tombados entre latas, na areia, entre formigas incompreensivas, feias e vorazes.
Meus olhos são pequenos para ver essa fila de carne em qualquer parte, de querosene, as ou de esperança que fugiu dos mercados deste tempo.
Meus olhos são pequenos para ver a gente do Pará e de