Poema de Gregório de Mattos e suas características barrocas

Namorado, o poeta fala com um arroio

Como corres, arroio fugitivo?
Adverte, para, pois precipitado
Corres soberbo, como o meu cuidado
Que sempre a despenhar-se corre altivo.

Torna atrás, considera discursivo
Que esse curso,que levas apressado no caminho, que emprendes despenhado
Te deixa morto, e me retrata vivo

Porém corre, não pares pois o intento
Que teu desejo conseguir procura
Logra o ditoso fim do pensamento

Triste pensamento sem ventura
Que tendo venturoso o nascimento
Não acha assim ditosa a sepultura

Glossário:
Arroio: canal natural ou artificial que liga cursos de águas. Córrego, riacho
Adverte: Avisa, repara, fazer notar
Despenhar-se: lançar-se, precipitar-se do alto
Discursivo: que procede ou deduz pelo raciocínio, não intuitivo, dedutivo
Ditoso: Que tem boa sorte, venturoso, feliz, afortunado
Precipitado: impulsivo, imprudente
Soberbo: orgulhoso, vaidoso, altivo
Ventura: sorte (boa ou má), acaso, risco, perigo
Venturoso: ditoso, feliz, perigoso, arriscado

Expressões:
Tornar atrás: cessar, desistir, não continuar
Considerar discursiva: ponderar bem, refletir

Características barrocas no poema;

Cultismo: linguagem rebuscada, culta, inversões sintáticas, figuras de linguagem.

Linguagem rebuscada- Ex:
Arroio fugitivo/despenhar-se corre altivo/ logra o ditoso.

Inversões sintáticas- Ex:
Despenhar-se corre altivo/ Que teu desejo conseguir procura

Figuras de linguagem- Ex
Antítese- Ex:
Te deixa morto e me retrata vivo

Efemeridade- Ex:
A água como objeto translúcido remete ao caráter efêmero da existência.

Pessimismo- Ex:
Porém corre, não pares pois o intento
Que teu desejo conseguir procura
Logra o ditoso fim do pensamento-Revela alguma intenção de por fim a um sonho de final feliz.