Poema Bonança

BONANÇA
Morta a voz da tempestade,
A terra, estendida ao sol,
Enxuga o corpo molhado.
Nuvens de sonho e humidade,
Tiras de um grande lençol,
Atam a testa dos montes.
Numa alegria futura,
Cantam, felizes, as fontes
Que sedes velhas secavam.
E sorriem na lonjura
Coisas que há pouco choravam.
Miguel Torga
O sujeito poético fixou neste poema a sua perceção da natureza , após uma tempestade .
O passado recente – há pouco – foi de tempestade , o futuro será de alegria e o presente é de recuperação da tempestade : a terra enxuga , as nuvens atam a testa dos montes , as fontes cantam e as coisas sorriem na lonjura.
A nível formal , o poema é constituído por uma única estrofe de onze versos e cada verso contém sete sílabas métricas-redondilha maior :
Mor / ta a / voz / da / tem / pes / ta / de,
A / te / rra, / es / tem / di / da ao / sol,
A regularidade métrica dá ao poema uma certa estabilidade , sugerindo à confiança num futuro de Bonança que a água , como fonte de vida trouxe á natureza .
A rima apresenta o seguinte esquema : a b c a b d e d f e f . A rima a,b e e é interpolada , a rima d e f é cruzada e o terceiro verso c é um verso branco. A presença da rima dá ao poema ritmo e harmonia , que ajuda a expressar a alegria face à transformação que a terra esta a sofrer.´
A ideia de promessa de vida é ainda mais forte pela personificação dada através das palavras como corpo , testa , felizes e sorriem . A metáfora grande lençol , para referir as nuvens , contribui para a expressividade do poema.