Platao
A proposição que originou o excurso na trajetória d´A República (representado pelos livros V, VI e VII) teve início no livro anterior com a exigência de maiores explicações por parte de Sócrates, feita inicialmente por Polemarco, sendo apoiada pelos interlocutores restantes, inclusive Gláucon e Adimanto. Ao deparar-se com essa intimação Sócrates hesita, afirmando serem essas discussões fatigantes e, ainda, exprime certa insegurança com relação à aceitação do ponto de vista que sustentará sobre eles. Entre as questões tratadas por ocasião desse desvio, a discussão acerca da viabilidade da cidade perfeita leva à necessidade de explorar a natureza de seus governantes: os guardiões. Esse tema, por sua vez, requer que se discorra a respeito da natureza do conhecimento verdadeiro e também da natureza do filósofo, tal como o que o diferencia dos demais homens. Mediante tal exigência, é preciso que se fundamente a natureza do conhecimento pleno e verdadeiro, em oposição ao conhecimento variável do campo das meras opiniões. O que vemos nesse momento é nada menos que a preparação do território para a exposição, no livro VII, da teoria platônica das idéias. O que caracteriza a natureza voltada à filosofia consiste tanto em aptidões naturais, quanto numa educação que as permita florescer. Mas para que seja possível à alma alcançar o conhecimento verdadeiro, ela deve ter “uma inteligência que, por natureza, além de outras qualidades, tenha justa medida e graça, para que esses dotes naturais a façam dócil na busca da idéia de cada ser” (486 d e). Ora, se, conforme Sócrates, essa natureza e seu aprendizado têm afinidade com a verdade, a justiça, a coragem e a temperança (487 a), não se poderia entregar a outros o governo da cidade. No entanto, diante dessa afirmação, Adimanto lembra que, de fato, não era isso que ocorria, ou seja, os que se voltavam à filosofia acabavam por ser estranhos aos demais cidadãos, tornando-se inúteis