pistolagem no brasil
SOCIOLOGIAS
DOSSIÊ
Sociologias, Porto Alegre, ano 4, nº 8, jul/dez 2002, p. 52-83
Pistoleiro ou vingador: construção de trajetórias*
CÉSAR
BARREIRA**
as duas últimas décadas do século passado, a pistolagem ganha visibilidade. Deixa o recanto do meio rural e ganha o domínio público, ultrapassando os limites da fazenda, da vila e da pequena cidade. A atuação dos pistoleiros deixa de ser restrita às áreas rurais, e as cidades passam a ser o grande palco. Os segredos do sistema de pistolagem vão sendo quebrados, desnudando uma complexa rede de atores e instituições.
Na década de 1980, ganharam destaque nacional e internacional os assassinatos de Chico Mendes, líder dos camponeses do Estado do Acre, de Margarida Alves, líder camponesa e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande -, Paraíba, e do Padre Jósimo Tavares, religioso que trabalhava junto aos camponeses do Estado do Maranhão.
Todas estas mortes foram praticadas por pistoleiros a mando de grandes proprietários rurais.
Os crimes de pistolagem não aumentaram nas últimas décadas. Ocorreu, entretanto, maior divulgação, e os crimes ganharam mais visibilidade.
Passaram a ser nomeados e definidos. Foram ganhando status de objeto sociológico, à medida que saíam de um lugar escondido e naturalizado.
N
* Este artigo é resultado de uma reflexão já desenvolvida no 3o capítulo do livro Crimes por encomenda pistolagem e violência no cenário brasileiro. Rio de Janeiro: Editora Relume Dumará, 1998.
**Professor Titular em Sociologia e Coordenador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da UFC.
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Sociologias, Porto Alegre, ano 4, nº 8, jul/dez 2002, p. 52-83
O pistoleiro, que executa a ação, e o mandante, que comanda a ação, constituem as peças-chaves e definidoras do crime de pistolagem.
Essas peças são classificadas também, como o autor material - o pistoleiro, e o autor intelectual - o mandante.
Penetrando um pouco