Relações Brasil-Paraguai: novas tensões e direito internacional Marcos Lobato Martins1 Nos últimos meses, as relações bilaterais e regionais do Brasil freqüentaram os noticiários da imprensa. Grande destaque foi dado ao acúmulo de tensões entre o país e vizinhos como a Bolívia e a Venezuela, além dos impactos negativos de medidas do governo argentino sobre a situação do abastecimento interno de commodities, especialmente o trigo. Também se discutiu muito a intervenção brasileira nos episódios envolvendo as FARCs e os governos da Colômbia, Equador e Venezuela, bem como as iniciativas de ampliar a cooperação sul-americana patrocinadas pela Chancelaria brasileira. Se os rumos do Mercosul estão postos em plano secundário, no noticiário corrente, as perspectivas de novas e agudas tensões com os vizinhos ocupam bom espaço na mídia. Algo relativamente inusitado na história do país, que sempre se caracterizou pela atenção diminuta dedicada aos temas de política externa, o que se explica, pelo menos em parte, pelo gigantismo do Brasil e pelas urgências dos problemas relacionados à construção interna da economia e das instituições. Este pequeno trabalho tem objetivos modestos. Em primeiro lugar, analisar o novo cenário das relações Brasil-Paraguai, decorrente da última campanha presidencial no país vizinho e de seu desfecho: a eleição do líder popular e nacionalista, o ex-bispo Fernando Lugo. Em segundo lugar, discutir os possíveis modos de encaminhamento das tensões que já surgiram em razão das novas pretensões do governo do país vizinho, tanto no plano das relações internacionais quanto na esfera do direito internacional. O que se quer é ressaltar que o Brasil, na condição de maior país sul-americano e de economia cada vez mais poderosa no cenário internacional, terá que se acostumar a conviver com alternativas entre fases de maior cooperação e fases de conflito no subcontinente. O que obrigará o Brasil a ampliar os recursos disponíveis para enfrentar as pressões externas