Pesquisa sobre camões
O Festival Internacional de Música do Algarve inicia-se, a 6 de Abril de 2007, com o concerto coral sinfónico Requiem à Memória de Camões, de Domin-gos Bomtempo – obra que será dirigida em Faro pelo maestro Álvaro Cassuto, fundador e arquitecto da Orquestra do Algarve, considerado o melhor e o mais internacional dos dirigentes portugueses. Esta escolha de Álvaro Cassuto levou-me à seguinte reflexão sobre a origem da notável obra musical e o seu contexto cultural e político.
João Domingos Bomtempo, (1775—1842) foi um dos maiores compositores portugueses, e também foi um cidadão profundamente internacional e cosmopolita, que passou largos períodos da sua vida em Londres e Paris. Esteve fora de Portugal não só para estudar nos grandes centros da música europeus, mas também porque a isso foi obrigado, visto que foi várias vezes alvo de perseguições movidas pelas fracções reaccionárias que então afligiam o Reino. Bomtempo, compositor, músico, pedagogo, liberal e maçon, fundou os Estudos Superiores de Música em Portugal — um dos muitos méritos que distingue este ilustre intelectual. Compôs a sua obra-mestra — o Requiem — em Portugal, mas editou-a em Paris em 1819/1820, celebrando a elegantíssima reedição d’Os Lusíadas, elaborada em 1817 na prestigiada oficina tipográfica Didot.
O espírito que movia vários portugueses residentes em Paris era o do revivalismo da ideia patriótica, a vontade de fazer renascer um Portugal independente de tutelas estrangeiras, reafirmado nas suas raízes culturais históricas. Por esse motivo, o Morgado de Mateus encomendou a reedição da mais significativa obra das Letras portuguesas ao mais excelente gravador de punções, fundidor de caracteres e impressor da época: Firmin Didot.
Didot imprimiu uma luxuosa edição com os seus célebres tipos de metal, no formato mais aparatoso: in octavo. (Em 2006, essa obra reapareceu nas livrarias em edição facsimilada, mas sem qualquer nota que esclarecesse sobre o seu valor