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A "guerra contra a guerra" e o expresso para o paraíso – cap. 7 - trechos
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Essa noite não consegui dormir no hotel barato de Ahwaz. Os mosquitos zuniam por meu rosto, a água engarrafada havia acabado e o frango do jantar havia caído mal. ''Até amanhã, Fisk", dissera Labelle com um sorriso obscuro. Labelle era um nova-iorquino criado no Arizona, um homem rápido e curtido, com um vocabulário cheio de impropérios para os idiotas das redações; especialmente se o incomodavam por teletipo com perguntas infantis sobre suas matérias. "Como caralho vou saber se o corno do filho de Saddam está lutando nesta guerra de merda se estou no front iraniano enquanto os iraquianos estão me bombardeando, caralho?", diria um dia para mim. "Às vezes me pergunto por que caralho eu trabalho para esta agência de merda." Porém, Labelle adorava a Associated Press e seus prazos de entrega, bem como o modo como o teletipo soava, tac-tac-tac-tac, com um "boletim" informativo. "Imagino que você sabe, Fisk, que o velho AK finalmente bateu as botas", disse-me por telefone em 1989, quando o aiatolá Khomeini morreu. "Suponho que isso quer dizer que a guerra acabou."
Não obstante, nessa quente e maldita manhã em Ahwaz, depois dos mosquitos e da noite em claro, o humor sinistro de Labelle com certeza era tudo o que eu precisava. Quando nossa escolta do clero foi nos buscar para retornar à base aérea, dedicou-me um de seus amargos sorrisos à Ia Steve McQueen. "Bem, Fisk, pelo que me disseram, trata-se de uma reunião informativa no bunker de sempre, depois um passeiozinho pelo Shatt e uma visita turística a Fao. Muito tiro e muito cadáver: um trabalho sob medida para você." Alguns dias antes, um correspondente alemão havia sofrido um ataque cardíaco e morrido durante um bombardeio iraquiano em Fao.