Pensamentos
Se algo aprendi estudando o Organon de Aristóteles, foi que TODO discurso tem pelo menos quatro níveis de significado -- poético, retórico, dialético e lógico-analítico -- e só é compreendido quando você apreende nele a unidade, mais perfeita ou menos perfeita, desses quatro níveis. Um discurso é, em primeiro lugar, uma forma simbólica, uma construção artística; em segundo lugar, é uma tomada de posição em alguma questão pública (atual ou potencial); em terceiro lugar, é uma confrontação explícita ou implícita de hipóteses; em quarto, é uma tentativa, mesmo em germe, de provar alguma coisa. Esses quatro níveis estão presentes num soneto de Mallarmé como na Suma Teológica ou numa demonstração matemática. Os quatro discursos distinguem-se apenas pelo centro formal hierarquizador do conjunto (a intenção dominante do texto), mas, materialmente, estão presentes sempre. Por isso é que digo que a teoria dos quatro discursos é também uma técnica pedagógica que deveria orientar toda formação superior. Um homem de cultura é aquele que lê simultaneamente nesses quatro níveis.
-------------
Michael Dummett diz que a filosofia é para pessoas que gostam de "argumentos abstratos". São essas pessoas que lêem o Peter Singer e ficam encantadas. Mas a construção e intercâmbio de argumentos abstratos NÃO É a filosofia, é somente um dos instrumentos dela, e bastante secundário. Argumentos abstratos podem tornar-se um vício incapacitante, algo como joguinhos de computador. Por isso é que recomendo a essas pessoas: quatorze anos de Husserl. Antes de discutir a realidade é preciso aprender a percebê-la e expressá-la descritivamente. ESTE é o grande problema da filosofia. Argumentos e provas vêm muito depois, se der tempo.
Às filhas que pedem ajuda financeira para colocar próteses de silicone no peito, alguns pais dizem: "Quando você crescer, trabalhar e tiver o seu dinheiro, você coloca." Eu tenho uma sugestão diferente: "Quando você tiver