Pedagogia
A pedagogia de Gramsci e o Brasil
Rosemary Dore Soares - Julho 2004
No Brasil, o interesse em compreender a concepção gramsciana da escola, fazendo avançar o debate sobre os elementos que fundamentam uma visão socialista da educação, é relativamente recente. Desde o final dos anos sessenta, já vinham sendo divulgados entre nós alguns textos de Antonio Gramsci, entre os quais Os intelectuais e a organização da cultura. Esse trabalho, de grande importância para a reflexão sobre a educação e a escola, entretanto, só chamou a atenção dos intelectuais de esquerda nos anos oitenta, quando se fortaleceu o processo de redemocratização do país. Desde então, alguns educadores buscaram apresentar propostas que se contrapusessem, ou mesmo se antecipassem, às iniciativas reformistas de setores conservadores e tradicionais, dando-se início à pesquisa sobre a concepção socialista da educação, de Marx a Gramsci.
Esse movimento intelectual, que consistiu numa busca de referências teóricas e históricas para orientar proposições políticas na direção de uma escola democrática, passou a exigir maior empenho numa nova pesquisa: compreender os fundamentos históricos e filosóficos da própria escola capitalista. Estabeleceu-se, assim, um estreito vínculo entre a investigação do conceito socialista da educação, o estudo das origens da escola capitalista e a formulação de propostas para democratizar o acesso à educação no Brasil.
Nas campanhas em defesa da escola pública dos anos trinta, cinqüenta e sessenta, os setores progressistas empunharam a bandeira da “escola nova”, surgida na Europa e nos Estados Unidos, no início do século XIX, como projeto hegemônico da burguesia imperialista (Soares, 1992). O apoio a uma proposta burguesa se deveu, entre outros fatores, à ausência de um projeto escolar próprio ao campo das forças populares e democráticas, claramente conectado aos interesses das maiorias sociais. Nos anos setenta, o