1 A Unesco e os patrimônios da humanidade: valoração no contexto das relações internacionais Simone Scifoni1 Resumo Em 1977 a Unesco estabeleceu os critérios para o reconhecimento de bens e áreas como patrimônio da humanidade. Estes critérios fundamentavam-se, principalmente, em experiências ocidentais de preservação, tendo em vista que a gênese da proteção institucional do patrimônio deu-se na França. Baseavam-se em valores como a monumentalidade e a excepcionalidade para os bens naturais e a autenticidade para os bens culturais. Mas, a partir de 1994, estes critérios são revistos pela primeira vez, abrindo caminho para o reconhecimento de outras formas de fazer cultura e de pensar o patrimônio expressando, assim, mudanças na condução das políticas internacionais para a questão. Como e por que estas mudanças ocorreram? Este trabalho se propõe a analisar a questão, tendo como ponto de partida a idéia de que a proteção do patrimônio mundial é um dos instrumentos que concorrem para configurar uma ordem ambiental internacional (RIBEIRO, 2002), na qual as questões de hegemonia política-econômica e de soberania nacional aparecem como elementos-chave de interpretação. O objetivo central deste artigo é, através da análise dos dados, dos critérios e dos conceitos utilizados para fundamentar a tutela internacional do patrimônio, problematizar a questão, interpretando-a para além das esferas meramente técnicocientíficas, revelando as questões de natureza política e, portanto, as relações de poder que envolvem as decisões, as escolhas, as seleções e a construção do discurso patrimonial. A Lista do Patrimônio Mundial Nascida sob os auspícios da Convenção do Patrimônio Mundial de 1972, a Lista do Patrimônio Mundial representa o reconhecimento, perante a Unesco, do valor
Doutoranda em Geografia Humana pelo Programa de Pós Graduação do Depto de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
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