Para uma garota de quinze anos
Nós a trouxemos para casa nos primeiros dias do mês de novembro, faz quinze anos. O rosto era miúdo,um tufo enroladinho de cabelos pretos, e os olhos,janelas escancaradas sob cílios longos.Chorava nas horas certas, e tomava a sua última mamadeira no colo da mãe, e logo depois adormecia. Aprendeu a sorrir com precocidade, e logo ficamos surpresos ao descobrir que o bebê descia do berço e ensaiava os passos em direção aos braços que a aguardavam. Cresceu rápido, do jeito de um carneirinho. Logo depois do banho, perfumada, dormia no meu colo, com o seu pijama de malha. Com lancheirinha cor de rosa, descobria a sua primeira tarde na escola. Um dia, me trouxe um desenho colorido, usando todos os lápis que lhe avia dado. Ganhou cartilha, descobriu várias músiquinhas. Fez sua primeira composição com tinta.Ficou com medo de tirar nota baixa, roeu as unhas e freqüentou uma escola modelo no Bexiga. Nós a criamos com simplicidade e ternura. No fundo, me recuso a aceitar que tudo isso levou apenas 15 anos para acontecer, e transformaram em uma mocinha morena, que misturou no seu temperamento uma densa compreensão pelas pessoas e pelas crianças, ainda bem pequenas. Compreensão e carinho misturados com uma pintada de timidez muito mal disfarçada pela garra que se atira ás decisões que aprendeu a tomar sozinha. Quinze anos.
Eu imaginava que nessa idade as meninas sonhavam com festas lindas e longas. Com direito a tudo. Enfim, a zorra dos quinze anos que os pais curtem sem tremor dentro do peito.
Quinze anos.
Onde terei errado na minha função de pai?
Pois essa menina de quinze anos que carreguei no colo e que a admirei pelo vidro da maternidade, recusa com um sorriso provocador qualquer coisa que lembre essa festa de aniversário, e apenas deposita um beijo em minha testa para ela provar que acaba de completar quinze anos.
Não sei aonde foi buscar esse despojamento e essa indiferença pela vaidade frágil que dura o tempo do