Para um novo paradigma histórico
Carlos Barros
Universidade de Santiago de Compostela
En fins do século XX, fala-se, e com razâo, da crise da história. O dicionário da Real Academia Espanhola diz que a palavra “crise” significa duas coisas, simultaneamente: uma mutaçâo importante e uma situaçâo difícil. Ou seja, há crise, quando há dificuldades, mas está ocorrendo uma mudança e, certamente, o segundo explica o primeiro. Nâo se costuma ver assim: quando se alude a uma crise, pensa-se mais em problemas e em complicaçaôes que em soluçôes e facilidades, o que dificulta a saída.
A história em crise Mas, quando falamos da crise da história, algúns podem estar pensando, também com razâo, que há quem creia e quem nâo creia em crise da história. Contudo, nossa disciplina vive sua crise independentemente do grau de conhecimento que cada colega tenha dela. Quando, em outubro de 1917, explodiu a revoluçâo na Rússia czarisa, podia haver pessoas que nâo estivessem fazendo nada, enquanto se sucedian tais fatos, que nâo deixavam, por isso, de ser historicamente extraordinarios[1]. Nâo somos, acaso, cientistas sociais para isso, para ir além da aparência e da cotidianidade das coisas, buscando ver o que se passa nas profundezas dos momentos históricos e nas profundezas de nossa disciplina duplamente histórica? A crise da história, como disciplina, faz parte de uma cris geral, ideológica, política, de valores, que afeta o conjunto das ciencias sociais e humanas. Muito do que vamos falar sobre crises e saídas poderia aplicar-se, mutadis mutandis, à antropologia ou à sociologia, mas vamos referir-nos àquilo que conhecemos e que nos interesa mais: a história como ofício, na transiçâo enre dois séculos. O caráter geral dessa crise deriva da simultaneidade da crise da história e da crise da escrita da história, e diz respeito a todas as dimensôes da profissâo de historiador e de sua