Para quem servem as auditorias
Uma recente onda de escândalos contábeis coloca em xeque o trabalho dos auditores externos — contratados justamente para avalizar a contabilidade de seus clientes
Em novembro, o Banco Central descobriu um rombo de 2,5 bilhões de reais no balanço do PanAmericano, banco até então presidido por Luiz Sandoval (foto) e auditado pela Deloitte havia nove anos. O BC ainda está investigando as responsabilidades
Num auditório lotado na sede da Comissão de Valores Mobiliários, no centro do Rio de Janeiro, advogados de 14 ex-executivos e ex-conselheiros da Sadia debateram no dia 14 de dezembro a responsabilidade sobre as operações com derivativos que trouxeram prejuízo de 2,6 bilhões de reais e quase quebraram a companhia em 2008. Depois de um dia inteiro de julgamento, o ex-diretor financeiro Adriano Ferreira recebeu como punição o impedimento de administrar companhias abertas pelos próximos três anos.
Nove conselheiros, entre eles a empresária Luiza Helena Trajano, uma das donas do Magazine Luiza, receberam multas que variam de 200 000 reais a 400 000 reais. “Eles falharam ao permitir operações acima do limite estabelecido pela companhia”, diz Alexsandro Broedel Lopes, relator do processo. Como é de imaginar, a decisão da CVM incomodou os conselheiros.
“Todo mundo errou”, diz Roberto Faldini, ex-conselheiro que acabou inocentado no julgamento porque havia assumido uma cadeira no conselho da Sadia poucos dias antes do estouro do escândalo. “Por isso mesmo, estranhamos o fato de os auditores não terem sido sequer indiciados.” A KPMG, auditora da companhia entre 2004 e 2008, nunca fez ressalvas sobre o risco das operações com derivativos em seus pareceres anuais. Segundo a CVM, a apuração da conduta dos auditores ainda está em curso.
O debate em torno do rombo na Sadia (empresa que viria a se unir logo depois à Perdigão para formar a Brasil Foods) é mais um dos vários escândalos financeiros dos últimos anos que colocam em dúvida o papel das