Ouvir estrelas
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".
METRIFICAÇÃO
"O/ra/ (di/reis)/ ou/VIR/ es/tre/las!/ CER/(to)
Per/des/te o/ sen/so!" E EU/ vos/ di/rei,/ no en/TAN/(to,)
Que,/ pa/ra ou/vi-/las/ MUI/ta/ vez/ des/PER/(to)
E a/bro as/ ja/ne/las,/ PÁ/li/do/ de es/PAN/(to...)
E/ con/ver/sa/mos/ TO/da a/ noi/te, en/QUAN/(to)
A/ Vi/a/ Lác/tea,/ CO/mo um/ pá/lio a/BER/(to,)
Cin/ti/la. E, ao/ vir/ do/ SOL,/ sau/do/so e em/ PRAN/(to,)
In/da as/ pro/cu/ro/ PE/lo/ céu /de/SER/(to.)
Di/reis/ a/go/ra:/ "TRES/lou/ca/do a/MI/(go!)
Que/ con/ver/sas/ com/ E/las?/ Que/ sen/TI/(do)
Tem/ o/ que/ di/zem,/ QUAN/do es/tão/ con/TI/(go?")
E eu/ vos/ di/rei:/ "A/MAI/ pa/ra en/ten/DÊ-/(las!)
Pois/ só/ quem/ a/ma/ PO/de/ ter/ ou/VI/(do)
Ca/paz/ de ou/vir/ e/ DE EN/ten/der/ es/TRE/(las".)
Esse poema de Bilac possui quatro estrofes: dois quartetos e dois tercetos. Todos os versos são decassílabos, e por causa dessa estrutura o chamamos de Soneto.
Classificamos este soneto como heroico, porque possui em seus versos acentuação tônica na 6ª e 10ª sílabas, são as chamadas “sílabas fortes”.
RIMA
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo A
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, B
Que, para ouvi-las muita vez desperto A
E abro as janelas, pálido de espanto... B
E conversamos toda a noite,