Outono americano
Dois sociólogos explicam o movimento dos indignados que começou em Nova York e se espalha pelo país 09 de outubro de 2011 | 3h 07
O Estado de S.Paulo
CHRISTIAN CARVALHO CRUZ
A coisa começou morna no meio do mês passado quando algumas dezenas de estudantes brancos de universidades privadas se reuniram no coração financeiro de Nova York para protestar contra tudo aquilo que está lá: o desemprego a 9%, os despejos, a mão salvadora do governo estendida só aos bancos e a sensação, enfim, de que nada vai mudar tão cedo.
Não propunham nada, nem queriam. Bastava estar. Nomearam o movimento de Ocupar
Wall Street e ergueram cartazes de uma singeleza quase cafona: "Acorda, América" (nem exclamação tinha), "Outono Americano" (alusão à Primavera Árabe) e "Nós somos
99%" (os financistas incólumes às chicotadas da crise seriam o 1% restante).
Mas no sábado 1º, como disse sarcasticamente Lawrence O'Donnell, da rede de TV
MSNBC, uns baderneiros de uniforme, quepes, distintivos e sprays de pimenta resolveram, na base da força, interromper uma marcha pacífica sobre a Ponte do
Brooklyn. Setecentos manifestantes foram presos. E desde então o Ocupar Wall Street cresceu - em número e diversidade. Desempregados, imigrantes, professores, profissionais liberais e principalmente sindicatos engrossaram o caldo. Eles se calculam em 20 mil. A turma do spray de pimenta diz que não passam da metade disso. Na quartafeira
, pelo menos 150 demonstrações parecidas se espalharam pelo país, incluindo
Boston, Chicago, Seattle, Cleveland e Los Angeles.
E, agora, a absoluta falta de meias palavras, tanto em Wall Street quanto em Washington, talvez sugira que não seja bom negócio continuar ignorando os mais novos indignados do pedaço. Porque os cartazes endureceram. Apareceram placas gritando "Antes dos lucros, as pessoas", "O mundo tem o suficiente para a necessidade de todos, mas não para a ganância de todos", "Imposto para Wall Street", "Eu não provoquei essa