Otelo E Desdemona
Pela intriga criada por um vilão- Iago- Otelo desmorona e, pela facilidade com que se deixar levar, acaba por revelar sua insegurança de base. Conforme o veneno dos ciúmes o intoxica, ele passa a sofrer de ataques de epilepsia, como expressão de perda de controle sobre si. O ciúme ganha uma dimensão delirante, quando em geral ele é a consciência sofrida do risco da perda do objeto de amor. Em dado momento, Otelo se despede de si mesmo e de suas realizações, ao perceber que está a se perder. Sob todo o seu poder, ele permanecia um estrangeiro, alguém que se vê aceito, mas sem pertencer de fato. À menor falha, a inclusão se revela superficial. Assim que ele demonstra fraqueza e ofende Desdêmona em público, outras personagens começam a dizer: é este o herói? Não se pode esconder por muito tempo o que se é!
Desdêmona é uma figura pura, beirando o inverossímil. Inocente das acusações que sofre por Otelo, não se ofende. Suas palavras e fidelidade são impotentes ante a suspeita de Otelo, de nada vale seu amor e dedicação. Suas grandes cenas são duas. No início da peça (cena ausente na ópera), seu pai a chama para saber se guarda fidelidade a ele e se ela foi raptada por Otelo. Numa bela fala, ela expõe seu respeito ao pai, mas afirma dever mais fidelidade ao seu marido. O corte da posição de filha para a de mulher é sustentado por ela com segurança, ao evocar que sua mãe fez o mesmo ao se casar. Ao final desta cena, o pai dela diz a Otelo algo como: “cedo a você aquilo que, se já não fosse seu, eu jamais cederia” e lança uma praga, se ela deixou o pai, em algum dia ela poderá fazer o mesmo com ele. A outra grande cena de Desdêmona é a da noite de sua morte. Ela pressente que Otelo a matará, veste seu vestido de noiva e canta a