osso do corpo
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Transcrição de Ricardo Reis - "antes de nós nos mesmos arvoredos"
Antes de nós nos mesmos arvoredos Antes de nós nos mesmos arvoredos
Passou o vento, quando havia vento,
E as folhas não falavam
De outro modo do que hoje.
Passamos e agitamo-nos debalde.
Não fazemos mais ruído no que existe
Do que as folhas das árvores
Ou os passos do vento.
Tentemos pois com abandono assíduo
Entregar nosso esforço à Natureza
E não querer mais vida
Que a das árvores verdes.
Inutilmente parecemos grandes.
Salvo nós nada pelo mundo fora
Nos saúda a grandeza
Nem sem querer nos serve.
Se aqui, à beira-mar, o meu indício
Na areia o mar com ondas três o apaga.
Que fará na alta praia
Em que o mar é o Tempo?
8-10-1914 Análise formal do poema Uso da quadra
Regularidade métrica Relação que se estabelece entre o "nós" e os elementos da natureza referidos Uma similitude de condições que decorre da participação da mesma realidade perene.
«Não fazemos mais ruído no que existe / Do que as folhas das árvores / Ou os passos do vento» (vv. 6-8); Uma dissimilitude de condições que decorre da finitude e da transitoriedade que caracterizam o homem e a sua consciência do tempo; («Passamos» (v. 5) e da O Ruído das folhas das árvores e da passagem do vento é tão insignificante quanto a agitação do homem; A natureza, concretizada nos arvoredos assiste impassível à passagem dos homens; «Antes de nós nos mesmos arvoredos / Passou o vento, quando havia vento» (vv. 1-2); É como que uma permanência que se opõe à transitoriedade da vida humana. È também de assinalar que o sujeito coletivo “nós” se distancia da natureza, na medida em que a voz poética traduz a perceção das consciência humanas da passagem do tempo e da inutilidade do esforço do homem, enquanto os elementos naturais permanecem passivos a esta