Os três Medicos
Martins Pena
PERSONAGENS.
MARCOS, velho, pai de ROSINHA e de MIGUEL, tenente de marinha.
LINO DAS MERCÊS, velho.
DR. MILÉSSIMO, médico homeopata.
DR. CAUTÉRIO, médico alopata.
DR. AQUOSO, médico hidropata.
Um criado.
A cena se passa no ano de 1845. CENA I
(Sala em casa de MARCOS. Porta no fundo e à direita; mesa e cadeira.) (MARCOS, sentado junto à mesa, e a seu lado ROSINHA e MIGUEL. MARCOS mostra no semblante abatimento.) MARCOS - Meus filhos, pouco tempo poderei viver. As forcas abandonam-me. Tenho o pressentimento que minha morte bem próxima está...
ROSINHA - Meu pai, não desanime! Espero em Deus que esta sua moléstia será passageira.
MARCOS - Passageira? Quando a vida assim se desorganiza é inevitável o seu fim.
MIGUEL - Êsse temor é que pode tornar a moléstia grave, quando talvez seja ela ligeira, e em grande parte devida aos anos.
MARCOS - Devida aos anos...Devida aos anos é ela, mas não como pensas...Os anos a têm exacerbado. Deus o sabe como!
ROSINHA - Mas os médicos...
MARCOS - Que pode a medicina em moléstia como a minha? AOS MÉDICOS NÃO
TORNO a culpa, que fazem êles o que aprenderam, e o que podem. A ciência é muitas vezes ineficaz.
MIGUEL - Se meu pai consultasse a outro médico...
MARCOS - A outro? Que mais queres que eu faça? São poucos os que aqui têm vindo? O meu médico assistente, o Dr. Cautério, é homem de reputação bem adquirida.
MIGUEL - Não contesto. Antigo, rotineiro e feliz muitas vêzes, mas se meu pai não tem colhido vantagem com seu tratamento, para que não chama, por exemplo, um médico homeopata? ROSINHA - Assim é.
MARCOS - Não creio na homeopatia.
MIGUEL - Se a não conhece! Peço-lhe um favor: um de meus verdadeiros amigos é o Dr.Miléssimo. Há pouco que chegou de Paris, aonde estudou com muita aplicação a homeopatia.Permita que venha êle fazer-lhe uma visita.
MARCOS - Debalde! Nada espero...
MANUEL - O que lhe custa? Deixe-o vir;