Os movimentos "messiânicos" brasileiros
"messiânicos" brasileiros: uma leitura*
Alba Zaluar Guimarães**
Talvez nenhum outro fenômeno social no Brasil tenha se prestado a veicular teses tão disparatadas entre si como os m o vimentos messiânicos. E, provavelmente, estão eles entre os que conseguem com maior constância intrigar e estimular a ima ginação nos mais variados ramos da produção cultural neste país. Fazedores de mitos ou historiadores, literatos populares ou eruditos, fiéis ou padres, os que vivem o folclore ou os que o estudam, os que organizam e os que se propõem apenas a pen sar, os políticos ou os cientistas sociais, têm sofrido igualmente o seu perene fascínio.
O dualismo nas representações acerca dos movimentos mes siânicos, ora manifesto ora disfarçado, está presente tanto no dis curso dos que deles participaram como no dos que o comenta ram. Ideologia por definição maniqueísta, o messianismo parece quase sempre sugerir interpretações igualmente maniqueístas. Ou bandidos sangüinários e desordeiros ou trabalhadores pacíficos e organizados; ou hereges fanáticos e ignorantes ou fiéis tradi cionais e ortodoxos; ou camponeses revolucionários ou sertane jos conservadores: entre estes extremos o leitor dessa vasta lite ratura oscila entre a ameaça de um grande perigo e a confiança originária da fraqueza do outro, indagando-se perplexo onde es* Resenha publicada no BIB n. 6.
** A lba Zaluar G uim arães é mestre em A ntropologia Social pelo
Museu N acional e prepara sua tese de d o utorado em Ciência Política na USP. É professora de A ntropologia na Unicam p.
tará o maniqueísmo, neles ou em nós? Mas, criativo por exce lência, o messianismo, dada a diversidade de suas manifestações, também sugere numerosas interpretações alternativas que não deixam de ser, entretanto, razões exteriores a ele, situando-se nas condições mesmas de sua produção.
Principais fontes
Em se tratando de movimentos no mais das vezes hoje históricos, as fontes sobre