Os Miseráveis - Peça Teatral
Em um dos primeiros dias de Outubro, em 1815, antes do pôr-do-sol, um homem viajava a pé. Tinha aparência assustadora. Seria difícil de encontrar alguém com aspecto mais miserável. (Jean Valjean anda pedindo estalagem)
ESTALAJADEIRO:
-Que deseja?
JEAN VALJEAN: -Comer e dormir.
ESTALAJADEIRO:
-Nada mais fácil! Pagando! Você tem documentos? (Jean Valjean mostra seus documentos)
ESTALAJADEIRO:
-Não quero você aqui! Vá embora!
Esse fato se repetiu por várias vezes. Foi recusado até na cadeia, até que triste e desolado deitou-se na praça.
VELHA:
-Que faz aí, meu amigo?
JEAN VALJEAN: -Como vê, estou deitado.
VELHA:
-Nesse banco?
JEAN VALJEAN: -Por dezenove anos, em vez de colchão, tive uma tábua. Hoje posso dormir em colchão de pedra.
VELHA: -Foi soldado?
JEAN VALJEAN: -Sim, minha boa senhora. Soldado.
VELHA:
-Por que não vai para a estalagem?
JEAN VALJEAN: -Não tenho dinheiro.
VELHA:
-Ih! Só tenho quatro moedinhas.
JEAN VALJEAN: -Mesmo assim, me dê.
(A velha passa as moedas para Jean Valjean)
VELHA:
-Não ode passar noite aqui. Já bateu naquela porta?
(Velha aponta uma porta)
JEAN VALJEAN: -Pois é lá que deve bater.
(Jean Valjean levanta e vai até a porta, bate e entra)
JEAN VALJEAN: -Meu nome é Jean Valjean. Cumpri pena como forçado das galés por dezenove anos. Há quatro dias fui libertado. Vou para Pontalier, que é o meu destino. Estou caminhando há quatro dias. Cheguei quase ao anoitecer. Fui a uma estalagem. Mas não quiseram me hospedar. Quando cheguei, tive de apresentar meu documento na Prefeitura, como é obrigatório. E o estalajadeiro descobriu quem eu sou. Fui a outra e me expulsaram. Bati até na cadeia e não consegui abrigo. Estava deitado em um banco da praça , quando uma senhora me apontou sua casa e disse para eu bater à sua porta. Aqui é uma estalagem? Eu tenho dinheiro para pagar. É o dinheiro que ganhei em dezenove anos de trabalhos