Os manuscritos e impressos antigos: a via filológica
Manoel Mourivaldo Santiago-Almeida
— Meu senhor, respondeu-me um longo verme gordo, nós não sabemos absolutamente nada dos textos que roemos, nem escolhemos o que roemos, nem amamos ou detestamos o que roemos; nós roemos.
Trecho do capítulo XVII, Os vermes
(Dom Casmurro, de Machado de Assis).
Conceituação de Filologia
O termo filologia não é novo. Por isso mesmo suporta diversidade conceitual e, consequentemente, sua prática pode tomar trilhos também vários.
Vejamos o que diz apenas o Dicionário Houaiss (HOUAISS; VILLAR, 2001,
P.1344), com a indicação da data de algumas acepções. Filologia é (1) o “estudo das sociedades e civilizações antigas através de documentos e textos legados por elas, privilegiando a língua escrita e literária como fonte de estudos”. Século XVI; (2) o
“estudo rigoroso dos documentos escritos antigos e de sua transmissão, para estabelecer, interpretar e editar esses textos”. Século XIX; (3) o “estudo científico do desenvolvimento de uma língua ou de famílias de línguas, em especial a pesquisa de sua história morfológica e fonológica baseada em documentos escritos e na crítica dos textos redigidos nessas línguas (p.ex., filologia latina, filologia germânica etc.); gramática histórica”. Século XX; (4) o “estudo científico de textos (não obrigatoriamente antigos) e estabelecimento de sua autenticidade através da comparação de manuscritos e edições, utilizando-se de técnicas auxiliares (paleografia, estatística para datação, história literária, econômica etc.), especialmente para a edição de textos”; e (5) a “parte da linguística histórica que trata do estudo comparado das línguas, não só através de sua origem e evolução, como também do confronto com línguas modernas; gramática comparada, linguística comparada. Etimologicamente, do latim: philologǐa,ae 'amor às letras, instrução, erudição, literatura, palavrório'; do grego: philología,as 'necessidade de
falar,