Os desdobramentos da teoria celular

Os desdobramentos da teoria celular
Estamos em fim do século XVII. Há dois séculos, o conhecimento humano vem passando por transformações importantes. O entendimento da natureza avança a passos largos, desde que a consideramos um grande mecanismo cujo funcionamento é regido por leis naturais. Hoje a compreendemos muito mais, porque é nela própria que procuramos as explicações de seus fenômenos.
Com os microscópios, descobrimos que nós, seres visíveis, estamos, de algum modo, envolvidos pela presença, antes insuspeita, de uma infinidade de outros seres curiosos, minúsculos, que acreditamos serem gerados espontaneamente nos mais diversos lugares. Porém, a questão fundamental não está sob as oculares do microscópio, mas em nossas mentes. Como conjeturou o filósofo da ciência Thomas Kuhn, foi preciso surgir uma teoria para que se olhasse o conhecido como algo novo e diferente. Foi necessário examinar a velha célula, sob o já familiar microscópio, com olhos cujo foco fosse dirigido por uma nova teoria, lançando-se, assim, uma explicação para o seu papel no mundo vivo. Esse novo olhar, ou novo paradigma, como dizia Kuhn, é que foi o responsável pelo surgimento da teoria celular. Olhamos também de modo novo para nós mesmos. O ser vivo passou a ser tomado como um “animal-máquina”.
Descobriu-se que a célula possui um nível próprio de organização que lhe garante certa individualidade. Mas essa autonomia é limitada pela ação conjunta de todas as células que compõem um organismo. O microscópio tornou-se uma ferramenta indispensável para a investigação científica dos seres vivos. Mas nenhum dos microscopistas da época preocupou-se em indicar qualquer traço ou conjunto de traços que lhes caracterizasse. Ou seja, essas estruturas não eram pensadas como um mesmo tipo básico partilhado por vários seres. Era preciso que se vislumbrasse a generalização de que toda natureza viva é constituída por uma estrutura básica comum e que essa nova perspectiva da célula viesse a constituir