Os cavalhinhos de platiplanto de José j. veiga
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OS CAVALINHOS DE PLATIPLANTOJOSÉ J. VEIGA
O meu primeiro contato com essas simpáticas criaturinhas deu-se quando eu era muito criança. O meu avô Rubém havia me prometido um cavalinho de sua fazenda do Chove-chove se eu deixasse lancetarem o meu pé, arruinado com uma estrepada no brinquedo de pique. Por duas vezes o farmacêutico Osmúsio estivera lá em casa com sua caixa de ferrinhos para o serviço, mas eu fiz tamanho escarcéu que ele não o chegou a passar da porta do quarto. Da segunda vez meu pai pediu a Seu Osmúsio que esperasse na varanda enquanto ia ter uma conversa comigo. Eu sabia bem que espécie de conversa seria: e aproveitando a vantagem da doença, mal ele caminhou para a cama eu comecei novamente a chorar e gritar, esperando atrair a simpatia de minha mãe, se possível, também a de algum vizinho para reforçar. Por sorte vovô ia chegando justamente naquele momento. Quando vi a barba dele apontar na porta, compreendi que estava salvo pelo menos por aquela vez: era uma regra assentada lá em casa que ninguém devia contrariar o vovô Rubém. Em todo caso chorei um pouco mais para consolidar minha vitória, e só sosseguei quando ele intimou meu pai a sair do quarto.
Vovô sentou-se na beira da cama, pôs o chapéu e a bengala ao meu lado e perguntou por que era que meu pai estava judiando comigo. Para impressioná-lo melhor eu disse que era porque não queria deixar seu Osmúsio cortar meu pé.
- Cortar fora? Não era exatamente isso o que eu tinha querido dizer. Mas achei eficaz confirmar; e por prudência não falei, apenas bati a cabeça.
- Mas que malvados! Então isso se faz? Deixe eu ver.
Vovô tirou os óculos, assentou-os no nariz e começou a fazer um exame demorado de meu pé. Olhou-o por cima, por baixo, de lado, apalpou-o e perguntou se doía. Naturalmente eu não ia dizer que não, e até ainda dei uns gemidos