ORLANDO A biografia de um Self Cinético

814 palavras 4 páginas
ORLANDO
A biografia de um Self Cinético

Quando Myra Jehlen, em seu artigo “Gênero”, nos incentiva a “ler” a literatura sob a perspectiva do gênero, a usar o gênero como “instrumento” crítico, ela o faz principalmente sob o argumento de que essa forma de ler é capaz de movimentar muitos conceitos, idéias, princípios identitários e campos do saber. As questões “obviamente envolvidas com a questão da identidade sexual” são questionadas e repensadas, sem dúvida, mas também (e principalmente) ficam abalados os “princípios básicos da identidade pessoal e da ideologia social”, bem como ficam desnudadas muitas das intenções discriminatórias que se escondem sob esses princípios. É como se essa perspectiva crítica nos pudesse fazer ver melhor (no interior da literatura) toda uma “atividade” política-ideológica devotada ao recalque continuado da “complexidade das afiliações e interações humanas”. Reduzir uma complexidade permanente e móvel a uma identidade fixa e estável; transformar a contingência, a mutabilidade e a arbitrariedade humanas em natureza, destino e transcendência: tal é o trabalho contínuo das forças “estabilizadoras” do social e do cultural que atuam na e através da literatura. Reconhecer esse trabalho ideológico e saber como ele funciona é politicamente imprescindível. Para tanto, o problema do gênero é uma excelente porta de entrada. O gênero funciona como elemento de identificação e, portanto, de discriminação, tendo sido comumente usado para estabilizar o social e para manter as estruturas de poder. No entanto, quando observamos os sexos humanos como atuação, como dramatização e como performance (em lugar de vê-los como naturalmente dados) eles começam a atuar como forças desestabilizadoras cujo horizonte de atuação é indefinido (ou tornado infinito, para usar as palavras de Myra Jehlen).
Assim, não é difícil entender que o problema do sexo de “Orlando”, no livro homônimo de Virgínia Woolf, é principalmente um ponto de partida para uma série de

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