Orgulho surdo
SURDOS, 1, (17 de maio) 2003, São Paulo: FENEIS-SP [Local: Faculdade Sant’Anna].
O orgulho de ser surdo
∗
Quero agradecer o convite para estar aqui hoje. É uma honra para mim. Acho este encontro entre surdos e intérpretes muito importante neste momento histórico. Fico muito satisfeito de ver que eventos como este, organizados por instituições surdas e reunindo surdos e ouvintes, estão começando a acontecer com freqüência.
Também quero agradecer a Priscilla pelo tópico que ela me passou. Ela pediu que eu falasse sobre "a crença que surdos norte-americanos têm na sua língua e na sua cultura". É um tópico muito interessante, e um que pode nos ensinar muita coisa.
Eu não perguntei para a Priscilla, mas eu acho que ela tinha também uma outra pergunta em mente: Por que os surdos norte-americanos crêem na sua língua e na sua cultura, e os brasileiros não? Ou talvez: Por que os surdos norte-americanos parecem crer mais na sua língua do que os brasileiros? Em outras palavras, eu entendi que o interesse no tópico não era apenas uma curiosidade sobre o que acontece nos Estados
Unidos. Eu entendi que ela estava interessada em ver o que nós, brasileiros, podemos aprender com a experiência norte-americana. Pelo menos, é assim que eu entendi, e é sobre isso que eu vou falar hoje.
Vamos supor que os surdos norte-americanos crêem mais na sua língua e na sua cultura do que os brasileiros. Será que é porque os surdos norte-americanos são mais sensíveis, ou mais espertos? Certamente que não! Será que é porque sua língua e sua cultura merecem mais admiração ou que são mais bem desenvolvidas ou mais
∗
Leland Emerson McCleary é professor do Departamento de Letras Modernas da USP, pesquisador do Núcleo de
Pesquisa das Novas Tecnologias de Comunicação Aplicadas à Educação (Escola do Futuro) e coordenador do grupo de pesquisa Estudos da Comunidade Surda: Língua,