Operário em construção
O poema “O operário em construção” escrito por Vinícius de Moraes, há mais de meio século, em 1956, descreve o trabalho como base da vida humana e o processo de tomada de consciência de um operário, partindo de uma situação de completa alienação: “tudo desconhecia de sua grande missão”, sem saber “que a casa que ele fazia sendo a sua liberdade era a sua escravidão”. A alienação do trabalhador faz o produto ser estranho e independente de seu construtor, sendo-lhe estranho.
A propriedade privada é produto do trabalho e o meio de alienação do trabalhador. “De fato, como podia um operário em construção compreender por que um tijolo valia mais do que um pão? Tijolos ele empilhava com pá, cimento e esquadria quanto ao pão, ele o comia... mas fosse comer tijolo!”. O trabalhador é alheio a tudo o que produz, não se dando conta de que aquilo que cria é parte de si. A suspensão desta alienação se inicia, quando o operário começa a tomar consciência: quando acordou foi tomado “de uma súbita emoção” ao constatar que era ele que fazia todas as coisas: garrafa, prato, facão, “gamela banco, enxerga, caldeirão, vidro, parede, janela, casa, cidade, nação”. Não apenas os objetos de uso cotidiano, como roupas, alimentos, casa, mas também instituições (cidade, nação), e o próprio operário, resultam do trabalho. Foi dentro dessa compreensão desse instante solitário que, tal sua construção, cresceu também o operário, cresceu em alto e profundo em largo e no coração e como tudo que cresce ele não cresceu em vão, pois além do que sabia exercer, a profissão, o operário adquiriu uma nova dimensão: a dimensão da poesia. A experiência daquele homem o impulsionou a deixar aquela alienação e tomar consciência. A consciência do operário sai dos limites do real, do presente e atravessa os limites das possibilidades. Passou a identificar que seu produto lhe era opositor e, em contrapartida, era aliado do patrão. E aprendeu a notar coisas a que não dava