Olho mágico

1464 palavras 6 páginas
A percepção é a construção ativa de um estado neural que se correlaciona a elementos biologicamente relevantes do ambiente. Esta correlação, longe de estabelecer uma representação fiel do mundo, guia nossas ações na elaboração de comportamentos adaptativos, sendo, portanto, condicionada por fatores evolutivos. Já que a construção de um percepto é um processo intrinsecamente ambíguo, discrepâncias perceptivas podem surgir a partir de condições idênticas de estimulação. Essas discrepâncias são denominadas ilusões, e se originam dos mesmos mecanismos fisiológicos que produzem a nossa percepção cotidiana. Derivando de diferentes fatores, tais como ópticos, sensoriais e cognitivos, as ilusões visuais são instrumentos úteis na exploração das bases fisiológicas da percepção e de sua interação com o planejamento e execução de ações motoras. Aqui, examinamos as origens biológicas das ilusões visuais e algumas de suas relações com aspectos neurobiológicos, filosóficos e estéticos.
Todos vemos a lua "imensa e amarela" quando flutua no horizonte, ao contrário de quando está alta no céu. Estaria mais próxima da Terra, quando baixa no horizonte, assim parecendo maior? Ou sua imagem seria ampliada quando a luz que reflete atravessa os céus? Sabemos há muito tempo que nenhuma dessas explicações é verdadeira. A segunda delas, proposta por Aristóteles (384-322 a.C.) e refinada por Ptolomeu (87-151 d.C.), perdurou até o século XVII, quando se demonstrou que esse engano perceptivo não dependia de fenômenos astronômicos, meteorológicos ou ópticos. De fato, sabemos hoje que a imagem da lua projetada na retina, quando vista no horizonte ou alta, no zênite, possui o mesmo tamanho.1

Poderíamos passar a vida inteira sem nos dar conta desse fato, acreditando ser uma lua enorme que nasce e que se põe. Mas ao constatarmos que esse não é o caso, ficamos diante de uma contradição: o que "vemos" em uma situação contrapõe-se ao que "vemos" em outra. Neste exemplo, a visão desarmada de uma lua

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