Obra descartes
Análise da obra
A dúvida, o indubitável e o verdadeiro
A primeira Meditação começa anunciando a intenção de buscar um fundamento sólido e durável nas ciências. Esse fundamento não poderá ser encontrado no interior das opiniões até agora consideradas verdadeiras, porque a experiência demonstrou frequentemente que a força do pré-juízo impõe como absolutamente certas opiniões que, em seguida, se revelaram falsas. Para descobrir uma base sólida para edificar o saber, deve-se utilizar um critério para discriminar as crenças assumidas no decorrer da vida.
Esse critério é a indubitabilidade.
A dúvida como método
O projeto cartesiano de fundamentação da ciência propõe-se eliminar todas as opiniões que sejam passíveis de dúvida, em busca de um núcleo de proposições indubitáveis sobre as quais seja possível construir o edifício de uma ciência não mais passível de ser revista. Nessa tarefa, o ceticismo é, de um lado, o inimigo a ser derrotado e, de outro, o aliado cujas exigências servem de base para avaliar a resistência das crenças aceitas acriticamente durante a vida. No Resumo das Meditações, Descartes ressalta a dupla função da dúvida: de um lado, a dúvida deve servir para libertar a mente dos préjuízos e, de outro, deve eliminar a possibilidade de duvidar ulteriormente daquilo que se descobrirá ser verdadeiro: “a utilidade de uma dúvida tão geral [...] é muito grande, pois nos livra de todo tipo de pré-juízos [...] e [...] faz com que não seja possível que possamos ter mais alguma dúvida do que depois descobriremos ser verdadeiro” (p. 13). Se, depois de tentar pôr em dúvida, segundo o ensinamento do ceticismo, toda crença, se concluir que uma ou mais crenças são indubitáveis, ter-se-á encontrado a base da construção de uma ciência certa.
A dúvida cartesiana visa, portanto, a busca do indubitável. O indubitável de que fala Descartes não deve ser entendido apenas em senteido psicológico, como algo de que não se consegue duvidar, mas