Nothing
“Nessa noite que durou dois dias, em que Paulo me contou do seu caso com N. e, de sobremesa, da origem do chato nordestino, eu desmoronei, eu inteira - e não só minhas opiniões, atitudes e posições. Desmoronei. Eu não mais existia.” Pg. 113
Ao contrário do que se poderia supor, não há auto-comiseração exagerada. Antes pelo contrário. A lucidez e o humor com que a narradora, de quem nunca sabemos o nome, conta todos os passos do adultério são notáveis. O relato pormenorizado do que vai acontecendo contrasta com o silêncio do marido. Enquanto a mulher enfrenta os problemas, o marido esconde-se no silêncio. Se não fala, não existe.
A escritora explora a volatilidade do ser humano quando provoca a identidade com factos que obrigam a uma redefinição dos hábitos que a sustentam.
Numa prosa fluente, de cariz realista, a intimidade é colocada em causa quando o que a compõe é desvalorizado e exposto, por exemplo, na internet. Os meios informáticos são um mecanismo para a diluição entre o que é público e o que é privado.
A partir de uma história linear, Elvira Vigna constrói uma narrativa onde expõe algumas características da sociedade