Noite na taverna
UMA NOITE DO SÉCULO
Uma espécie de introdução apresentando o ambiente da taverna, a roda de bebedeira e de devassidão em que se encontram os personagens e o tom notívago e vampiresco em que se desenrolarão os fatos narrados.
Bertram, Archibald, Solfieri, Johann, Arnold e os outros companheiros estão na taverna, dialogando sobre loucuras noturnas, enquanto as mulheres dormem ébria sobre as mesas. Falam das noites passadas em embriaguez e pura orgia. Solfieri os questiona a respeito da imortalidade da alma, e parece não crer nela. Por isso, Archibald o censura pelo materialismo. Solfieri acredita na libertinagem, na bebida e na mulher sobre o colo do amado. Os homens só se voltam para Deus quando estão próximos da morte. Deus é, pois, a “utopia do bem absoluto”.
- Silêncio, moço! Acabai com essas cantilenas horríveis! Não vedes que as mulheres dormem ébrias, macilentas como defuntos? Não sentis que o sono da embriaguez pesa negro naquelas pálpebras onde a beleza sigilou os olhares da volúpia?
- Cala-te, Johann! Enquanto as mulheres dormem e Arnold - o loiro - cambaleia e adormece murmurando as canções de orgia de Tieck, que música mais bela que o alarido da saturnal? Quando as nuvens correm negras no céu como um bando de corvos errantes, e a lua desmaia sobre a alvura de uma beleza que dorme, que melhor noite que a passada ao reflexo das taças?
- És um louco, Bertram? Não é a lua que lá vai macilenta: é o relâmpago que passa e ri de escárnio às agonias do povo que morrem aos soluços que seguem as mortualhas do cólera!
As primeiras páginas deixam antever o clima da geração do mal do século, a irreverência incontida, a tendência às divagações literário-filosóficas, a vivência sôfrega e, principalmente,a morbidez e a lascívia.
-Estás ébrio, Johann! O ateísmo é a insânia como o idealismo místico de Schelling, o panteísmo de Spinoza - o judeu, e o histerismo crente de Malebranche nos seus sonhos da visão de Deus. A