Noite na Taverna- Primeira Parte
—Não: quando contavas tua história, lembrava-me uma folha da vida, folha seca e avermelhada como as do outono, e que o vento varreu.
— Uma história?
—Sim: é uma das minhas histórias: sabes, Bertram, eu sou pintor, é uma lembrança triste essa que vou revelar, porque é a história de um velho e de duas mulheres, belas como duas visões de luz.
Godofredo Walsh era um desses velhos sublimes, em cujas cabeças as cãs semelhdonzela a bater sobre o meu: isso tudo ao despertar dos sonhos alvos da madrugada, me enlouqueceu...
Todas as manhãs Laura vinha a meu quarto. . .
Três meses passaram assim. Um dia entrou ela no meu quarto e disse-me:
—Gennaro, estou desonrada pare sempre... A princípio eu quis-me iludir—já não o posso—estou de esperanças. . .
Um raio que me caísse aos pés não me assustaria tanto.
— E preciso que cases comigo— pai, ouves, Gennaro?
Eu calei-me.
—Não me amas, então?
Calei-me ainda.
—Oh! Gennaro, Gennaro!
E caiu no meu ombro desfeita em soluços. Carreguei-a assim fria e fora de si pare seu quarto.
Nunca mais tornou a falar-me em casamento.
Que havia de eu fazer? Contar tudo ao pai e pedi-la em casamento? Fora uma loucura... Ele me mataria e a ela: ou pelo menos me expulsaria de sua casa...: E Nauza? Cada vez eu a amava mais. Era uma luta terrível essa que se travava entre o dever e o amor, e entre o dever e o remorso.
Laura não me falara mais. Seu sorriso era frio: cada dia tornava-se mais pálida, mas a gravidez não crescia, antes mais nenhum sinal se lhe notava . .
O velho levava as noites passeando no escuro. Já não pintava. Vendo a filha que morria aos sons secretos de uma harmonia de morte, que empalidecia cada vez mais, o misérrimo arrancava as cãs.
Eu contudo não esquecera Nauza, nem ela se esquecia de mim. Meu amor era sempre o mesmo: eram sempre noites de esperança e de sede que