no lotação
Trabalho de Português
Professora: Angelina
Texto: No lotação
Nome: Danilo Lourenço Fernandes da Silva. N°05. Serie: 1°INFO B
Índice
- Enredo
- Foco narrativo
- Tempo
- Lugar
No lotação
Com o advento dos rádios transistores, o esporte, os fuxicos internacionais e a música popular passaram a ser nossos companheiros de viagem no ônibus e no lotação. Por isso não estanhei ao ouvi, em surdina, ”areia da praia branquinha, o vento levou o amor que eu tinha”. Olhando por olhar, não vi aparelho receptor junto ao ouvido do rapaz que se sentara a meu lado, e era junto de mim que a canção abria suas pétalas. O rapaz-moreninho, magro, terno escuro bem passado, de pobre caprichoso – tinha o rosto voltado para a rua, sua boca mal se entreabria. Cantava para fora do veiculo e para dentro de si mesmo. Parecia ausente, perdido talvez em extensa praia de areia alva, à procura de marcas de pés desaparecidos.
Depois, cantou “se mil vezes você me deixar e voltar, eu aceito”, e o fez um pouco mais alto. Passageiros viraram o pescoço para ver de onde se exalavam essas falas de amor. Não queriam acreditar que alguém cantasse no interior do lotação. Radio se tolera. Mas voz humana, próxima, direta? Dois deles fumavam, perto da inscrição que proíbe expressamente fumar no recinto, sob pena de multa. É tão natural desobedecer a uma proibição, como absurdo fazer alguma coisa que não desobedece a nada, mas não foi expressamente permitida: esta, sim, é a verdadeira, sutil infração. O rapaz cantava, sem proibição escrita. Era quase fenômeno.
Sem dúvida, no espirito de alguns passou a ideia de reclamar. Mas sempre se espera que alguém o faça por nós. Havia o medo do ridículo, a possibilidade de um incidente desagradável. Dizer que o rapaz estava perturbando o sossego dos passageiros seria demais. Que sossego? A viagem é cheia de rangidos, trancos, finos, freadas bruscas, berros de outros