Nick
A letra de “Homem Primata” da banda Titãs teria que ser reformulada, se fosse escrita hoje em dia, devido à nova onda de programas de responsabilidade social de empresas: Deus pode até estar contra todos, mas a propaganda empresarial, como se pudesse salvar o negro que sofre as conseqüências de uma abolição da escravatura mal-feita, diz que é “cada um por si, e o projeto de inclusão social por nós”. Por nós, classe média, classe alta e classe baixa. Já que apoiar entidades assistencialistas garante nossa limpeza moral e alguns momentos de felicidade para os moradores de rua ou para pobres da periferia. Porém, inevitavelmente, seguimos o conceito selvagem de “cada um por si”, visto que há um sistema econômico predominante no qual o consumo excessivo é incentivado e o individualismo é palavra de ordem. Esse é o discurso social lógico no qual os valores são flexíveis. E isso interfere nos atos de solidariedade, assunto do filme “Quanto vale ou é por quilo?”, de Sérgio Bianchi.
No filme, as personagens representam as classes sociais de onde partem, e por esse motivo, há relativização do que é certo ou errado. Assim, o “fazer o bem” tem significado diferente para as senhoras que ajudam nas ONGs e para o bandido que seqüestra um empresário, fazendo justiça social com as próprias mãos.
O motivo dessa variação de pontos de vista é contextualizado historicamente sendo apresentados casos do período escravocrata retirados do Arquivo Nacional (RJ). A intenção do diretor Sérgio Bianchi em dramatizar a História com atores que também representam as situações do mundo atual faz com que a comparação e a sensação de “nada muda no Brasil” sejam inevitáveis.
É assim que Sérgio Bianchi apresenta sua análise crítica em torno da relação pobre-responsabilidade social-boa imagem para a empresa ou para o indivíduo.
“Quanto vale ou é por quilo?” mostra como a sociedade brasileira, caracterizada pela transferência de