Naturalismo
“Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; (...) ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca.”
Nesse trecho, perceba uma das características do naturalismo literário – a animalização dos personagens. Rita Baiana contorce o corpo como uma serpente e enfeitiça o português, que larga a esposa para ficar com a mulata. Numa atitude antirromântica, eles não se casam, apenas se “juntam”, como se diz hoje em dia, uma conduta considera perniciosa para a moral da época.
Como num autêntico romance experimental, o texto de Aluísio Azevedo parece querer comprovar como um ambiente degradado e promíscuo leva à decadência. Por isso, não seria equivocado pensar que o personagem principal do livro seria o próprio cortiço, que molda a