Narratologia e meta-historiografia
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Alexandre Veloso de Abreu*
Resumo
O presente trabalho analisa o romance A gloriosa família: o tempo dos flamengos de Pepetela em uma perspectiva narratológica e historiográfica, entendendo que a obra concilia refinada estética ficcional com reflexões de identidade africana, conjugando ‘excelência literária’ e representabilidade cultural. Palavras-chave: Literatura Angolana; Narratologia; Meta-historiografia;
Romance; Ficção.
Entre a considerável produção literária de Carlos Maurício Pestana dos
Santos, o Pepetela, destaca-se o romance A gloriosa família: o tempo dos flamengos (1997) pela inventividade e elaborada utilização dos elementos da narrativa. O romance pode ser entendido como sofisticado recurso narratológico e metahistoriográfico. Ao dar voz para um mestiço mudo, tem-se uma profunda sistematização conceitual em narratologia, revigorando o papel do narrador em obras ficcionais. No romance percebemos a metahistória, que entende o estudo da história em uma multiplicidade de pontos de vista. Diante dessa perspectiva multifacetada, o valor documental de um texto narrativo literário se unifica ao valor do documento histórico e ajuda, até, a questionar o mesmo.
Apesar de vincular aos estudos mais formais de análise literária, a narratologia destaca-se como uma ferramenta pertinente de leitura e interpretação de obras ficcionais e não-ficcionais. Muito mais do que uma atribuição de nomenclaturas, a narratologia empreende uma tarefa de sistematização conceitual, revigorando estratégias de se abordar obras literárias.
* Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas
SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 14, n. 27, p. 29-35, 2º sem. 2010
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Alexandre Veloso de Abreu
Apresentado por Tzvetan Todorov na sua obra Gramática do Decameron
(1982), entende-se que o narratologista tem como meta descrever ao funcionamento
da