historia do presente
Luiz Gonzaga Motta
Narrativa jornalística e conhecimento imediato de mundo: construção cognitiva da história do presente*
Luiz Gonzaga Motta**
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Jornalista e professor da Universidade de Brasília, doutor pela University of Wisconsin (USA) e estagiário de pós-doutorado na Universidade Autônoma de Barcelona (Espanha).
1. História, incidente, acontecimento
O
historiador Robert Darnton (2004) chamou recentemente a nossa atenção para um fenômeno novo que ocorre na historiografia: o aumento do número de estudos sérios sobre fatos dramáticos relativamente curtos, narrados como contos, que ele denomina de “análise de incidentes”. Por um lado, diz ele, esses estudos respondem à fome de conhecimento histórico, por outro levantam uma velha questão: “o passado, quando visto de perto, parece mais inescrutável que nunca”. Levantam indagações atordoantes do tipo: “o que realmente aconteceu?”, ou “o que separa o fato da ficção?”, ou ainda “onde está a verdade entre as interpretações correntes”?1
* O autor agradece à Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos – FINATEC/UnB.
O apoio desta Fundação tornou possível o comparecimento do autor ao IV Colóquio EspanhaBrasil de Ciências da Comunicação realizado em Málaga, Espanha, de 24 a 26 de abril de 2006, onde este trabalho foi originalmente apresentado.
1 Darnton, Robert (2004): Um assassino sentimental, Caderno Mais!, Folha de S. Paulo, 23/05/
2004. Segundo Darnton, há uma dupla preocupação nessas análises. Por um lado, há uma reconstrução acadêmica de um fato; por outro, o relato de uma história, uma nova narrativa, que
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Artigo
Narrativa jornalística e conhecimento imediato de mundo
As indagações de Darnton trazem duas questões a partir das quais quero discutir a possibilidade de o jornalismo ser entendido como uma narrativa que tece o presente. Primeiro, quero discutir a ‘análise de incidentes’ como uma forma de buscar a compreensão histórica de acontecimentos