Nada
SONHO
A Rua direita estava apinhada. Camelôs, boys, transeuntes, vendedores de bilhetes, uma bagunça infernal como sempre, as pessoas se acotovelando em meio ao calor e o barulho. Neninha aperta o dinheiro na mão. Queria um vestido branco, bonito. Quem sabe, limpinha e arrumada, a mãe a quisesse de volta, se a encontrasse. Desviando dos encontrões, parou para comprar um pente. Vê um vestido branco, esticado na vitrine, cheio de goma, uma bandeira de paz para o seu Espírito. Entra na loja e compra o vestido sem experimentar. Saco linha de plástico e apertando o pente, corre então para o banheiro das lojas americanas, onde lava as mãos e o rosto gasta um tempo sem medida para desembaraçar os nós dos cabelos. Estava linda. Sentia se linda apesar dos pés nus. A mãe não haveria de ver que faltava alguma coisa. La procurá-La sem saber por onde começar e nem que rosto devia buscar. Nunca tinha visto a cara da mãe, mas imaginava-a igual a sua, só que maior. Devagar no inicio, correndo depois, voando em seguida, Neninha percorre a cidade como se tivesse asas, ajustando a visão ao rosto de cada mulher encontrada nas ruas, nas praças e becos, nas lojas e casas, nos tanques dos cortiços e nos monturos de lixo, nos taxis e nas esquinas, em todos os lugares vistos ou imaginados, sentido crescer a necessidade, a urgência do encontro. O peito doía toda vez que murmurava em eco: -Mãe, mãe... A euforia do inicio, a expectativa sempre renovada ia sendo substituída pelo cansaço e pela desilusão de todas as outras vezes. -Mãe, mamãe, onde você esta? Quero você. Preciso achar você. Tenho fome, tenho frio. Já não voa mais volta a ser a menininha da praça com vestido amassado e cabelos em nós. Chupando o dedo com força, Neninha chora sentida, vazia, enganada. -Por que, mãe, por que você não vem me buscar? Roda pela praça, espiando em cada canto, esgotando as esperanças e sentindo fome, muita fome, de comida, de carinho, de banho, de c hupeta, de cama fofa, de remédio contra piolho,