Nada
O que John Locke e Raul Seixas têm em comum? Ou Voltaire e Tim Maia? Todos, de uma forma mais ou menos significativa e abrangente, pregaram a tolerância para com as pessoas e suas convicções políticas, filosóficas, religiosas etc. Lembram-se da canção de Tim? “Vale tudo, só não vale dançar homem com homem nem mulher com mulher”. E da de Raulzito, quando diz “Se eu quero e você quer tomar banho de chapéu ou esperar Papai Noel ou discutir Carlos Gardel então vá! Faz o que tu queres pois é tudo da lei! Da lei!tentar”. O pensador inglês John Locke escreveu no século XVII sua famosa “Carta sobre a Tolerância” no que foi seguido pelo francês Voltaire um século depois, o qual redigiu seu igualmente importante “Tratado acerca da Tolerância”. Tolerância significa em latim “suportar” ou “sustentar”. O conceito moderno ensina que tolerar significa “admitir modos de pensar, de agir e de sentir que diferem dos de um indivíduo ou de grupos determinados, políticos ou religiosos”. As modernas democracias, notadamente a inglesa e a americana, apregoam a plenos pulmões que subsistem sob a égide da liberdade de pensamento, de expressão e de culto. Nossa constituição alçou ao status de cláusula pétrea em seu artigo 5º a garantia de tal liberdade. Atualmente, em todo canto se ouve falar de respeito às diferenças, de se adotar um comportamento politicamente correto ante as minorias, de se respeitar a atitude diferente do outro. No entanto, os fatos que parecem despontar atinentes à cultura da tolerância na sociedade são inquietantes. Persiste a velha discrepância entre a propagação do discurso e a aplicação da prática. Ora, o discurso da tolerância é fabuloso, sedutor. A idéia de que todo mundo pode viver do jeito que quiser, pensando, sentindo e crendo como lhe apetece, desde que com isso não se fira nenhum outro direito fundamental do seu próximo, é deveras agradável. Contudo, o que ainda se observa na maioria das vezes é uma tremenda incapacidade de