Mulher portuguesa
Dulce Rebelo Introdução Segundo os antropólogos, durante séculos a mulher ocupou um lugar subalterno no seio da família e da sociedade por imposição histórica, que remonta ao tipo de organização e ao modo de subsistência das sociedades primitivas. Homens e mulheres viviam em grupos. Os homens percorriam os grandes espaços para caçarem animais necessários à sua alimentação. As mulheres, entregues à sua actividade de procriação, limitavam-se a colher plantas selvagens na imediação do seu habitat. A caça era uma actividade nobre, implicava riscos, argúcia, destreza, força, manuseamento de arma de ataque. A colheita de plantas não tinha qualquer valoração. A partir desta diferença inicial de funções nascem todas as desigualdades. A mulher depende do homem, fica confinada aos espaços restritos, cuida dos filhos e dos parentes. Com base na organização deste quotidiano surgem extrapolações bem conhecidas: o homem caracteriza-se pelo rigor do pensamento, pela capacidade de raciocínio, pela força muscular, o que lhe dá autoridade. À mulher resta-lhe a intuição, a paciência, a capacidade de dedicação aos outros. Enraízam-se, assim, hábitos ancestrais e criam-se mentalidades apoiadas em códigos, interdições e proibições veiculadas pelas religiões, que influenciam o relacionamento entre homens e mulheres. A evolução da condição feminina, que veio a verificar-se ao longo do tempo, é universal e resulta de um grande conjunto de factores, sobressaindo as mutações económicas, sociais e politicas que se reflectem no comportamento das mulheres. Elas saem da domesticidade para a vida activa, põem à prova as suas capacidade, revelam talentos, aprendem a viver no colectivo, afirmando a sua identidade e autonomia. Vivemos num mundo complexo que muda constantemente e com ele muda a situação feminina, mas as mudanças não ocorrem de forma linear. Há resistência a vencer para alcançar a igualdade e isso explica a criação de diversos