Morte e vida severina - joão cabral
Morte e Vida Severina é a narrativa em versos da viagem que o retirante Severino faz de sua terra — a serra da Costela, nos limites da Paraíba — até Recife, seguindo o curso do rio Capibaribe. Severino busca chegar à capital, almejando uma vida digna. Pelo caminho, depara-se com as diversas facetas da morte - causada pela seca; pela fome, que corrói as entranhas do país, e pela disputa por terras áridas. Assim ele tenta a todo custo fugir da destruição e corre em busca da perspectiva de dias melhores. Chamada auto pelo próprio autor assemelha-se às composições de caráter religioso ou moral dos séculos XV e XVI, cuja representação teve origem nos Presépios, encenações do nascimento de Cristo, típicas também em Pernambuco, estado em que corre a obra de João Cabral de Melo Neto.
OS PERSONAGENS
Severino - Um retirante nordestino que parte da serra para o litoral em busca de melhores condições de vida.
José, mestre carpina - Homem que convence Severino a não "saltar fora da ponte e da vida", ou seja, não se matar - representa a possibilidade de uma nova e esperançosa vida. O termo "carpina" significa carpinteiro. A pluralização do nome próprio Severino transforma-o em nome comum, nome que simboliza a violência e a miséria de vidas tão iguais quanto às mortes... 'esta morte severina'. Agora, a palavra torna-se um adjetivo que caracteriza a precariedade da existência dos seres oprimidos pela seca e pelo conservadorismo de um sistema sócio-econômico-político opressor, de estrutura anacronicamente reacionária [os severinos como descendentes do Coronel Zacarias, o 'mais antigo senhor desta sesmaria', e de mães chamadas Marias...].
“Como há muitos Severinos/ que é santo de romaria,/ deram então de me chamar/ Severino de Maria;/ como há muitos Severinos/ com mães chamadas Maria,/ fiquei sendo o da Maria/ do finado Zacarias.”
Nota-se a despersonalização do protagonista, que ele mesmo reafirma, logo depois: “Somos muitos Severinos/ iguais em tudo