Morte de Paulo Freire

349 palavras 2 páginas
Paulo Reglus Neves Freire tinha 75 anos, barbas de profeta e demasiada esperança no Brasil. Costumava refletir: "Quem sabe, ao fazer da docência o meio da minha vida, eu termino modificando a docência no fim da minha vida". Precisaria de um pouco mais de tempo. Na última entrevista concedida à revista Veja, em maio do ano passado, já reclamava do cansaço. Dizia que a mente estava com 20 anos, mas o corpo carregava o peso da velhice, sentia um sono incômodo cedo da noite e saía de casa cada vez menos. Nem sombra do Paulo Freire que, anos antes, era capaz de largar tudo o que estivesse fazendo para pegar um cinema com a esposa no fim de tarde. Só não parara de pensar, como sussurravam seus detratores. "Respeito quem acha que eu já era, mas não concordo, porque me sinto profundamente sendo". Morreu ontem, às 5h30min, de infarto no miocárdio, depois de sofrer uma crise de angina (dor no peito causada por má oxigenação no coração) e ter sido submetido a um cateterismo (estudo das artérias coronáris).

O educador e pedagogo criador de um notório método de alfabetização que leva o seu nome aprendeu a ler no Recife, onde nasceu numa rua de nome poético: Estrada do Encantamento, bairro da Casa Amarela. Em casa mesmo, os pais lhe ensinaram o bê-a-bá, rabiscando no chão de terra do quintal, com gravetos, letras, palavras e frases. Ainda há pouco, sentia saudades da professorinha Eunice, quem primeiro lhe abriu os olhos para "como é bonita a maneira de falar que a gente tem". Mas não foi o que se pode chamar de um aluno brilhante. Com 15 anos, entrando no 1º ano do ginásio, cometia erros dantescos. Um deles: rato ele escrevia com dois erres. Detalhes. Nada que o impedisse de, no futuro, se tornar um dos mais importantes educadores brasileiros e botar em prática uma pedagogia libertadora que aposta na participação mais do que na técnica e conta discípulos em todo o

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