Moda Brasileira 1900 a 1910
ASTRID FAÇANHA
1900: abaixo a ditadura das barbatanas das crenolinas
Na virada da década, os padrões do que é chic são importados da Europa. A Inglaterra vive o período Eduardiano (1900/1939), a França está no auge da Belle Epóque (1890/1939). Chegam em São Paulo os primeiros catálogos, figurinos e revistas de moda franceses como as Samaritaine, Magazin de Demoiselles, Salon de La Mode e La Mode Illustrée. Já é editado na cidade A Estação, uma versão nacional da revista parisiense La Saison. Ostentação e extravagância são as principais características da indumentária no começo do século. Além de vestir, as roupas enfeitam. Aos poucos, começam a perder seus excessos. Diminui o volume dos tecidos, dos babados e das caudas das saias. A silhueta vai ficando cada vez mais simples e mais perto ao corpo. A beleza começa a ceder lugar ao conforto. As elegantes paulistas suspiram aliviadas, livres da fiel submissão às barbatanas das crenolinas.
De 1903 em diante, esta tendência vira a moda do devant droit, também conhecida como estilo Liberty, tendo sua origem no art-nouveau, movimento estético que privilegia as formas orgânicas e ornamentais, a favor de "tirar a banalidade das coisas". O rebuscado figurino com silhueta em "S" dá impressão da mulher em permanente reverência, efeito este realçado com a saia que se prolonga em pequenas caudas enxertadas com franzidos, rendas e laçarotes. Progressivamente, as saias afunilam, a ponto de serem batizadas de entravées. As "travadinhas", segundo relata Ademar Barros Ferreira, cronista da época, "mal permitem às elegantes da capital darem um passo além de 10 cm".
Vestidos diurnos são fechados até o pescoço, os noturnos, decotadíssimos, sem falsas-modéstias. As cores deste período evocam a frivolidade e a fragilidade - em tons como o rosa desbotado e o malva desmaiado. Os tecidos favoritos são o crêpe de chine, o chiffon, a mousseline de seda e o tule. Detalhe: senhoras da sociedade paulistana