MOBILIDADE URBANA
Raquel Rolnik e Danielle Klintowitz
E
m 2009,
o recorde de índice de congestionamento em São Paulo – 294 km de lentidão – foi quebrado duas vezes no mesmo dia.1 Ao longo da última década, 118 km de vias congestionadas têm sido a média diária da cidade nos horários de pico.2 Entre os anos 2000 e 2008, a velocidade média do trânsito nos horários de pico da manhã e da tarde na cidade de São Paulo foi de 19,30 km/h.3 O tempo médio gasto no trânsito pelos paulistanos para realizar todos os deslocamentos diários é de 2h42min. A cada mês, o paulistano passa dois dias e seis horas no carro ou no transporte público para se locomover. Os paulistanos perdem, em média, 27 dias por ano presos no congestionamento.4
É nesses termos que os meios de comunicação têm preponderantemente expressado a crise de mobilidade que a metrópole paulistana tem vivido na última década. Além de povoar os noticiários de rádios, TV e jornais, o tema do congestionamento e as estratégias utilizadas para enfrentá-lo estão presentes nas conversas cotidianas entre moradores da cidade de tal forma que, entre aqueles que creem em prognósticos menos alarmistas de colapso total iminente e aqueles que acreditam que é possível uma superação dessa crise, o trânsito e seu impacto na vida da cidade se constituem inegavelmente como uma das grandes
“questões” da cidade. Constituído na opinião pública, esse tema também se constitui no interior do aparato estatal, que o processa sob a forma de dois tipos de intervenções: investimentos em infraestrutura para o setor e recontratações entre agentes públicos e privados no campo da gestão e do ordenamento jurídico do transporte e trânsito da capital.
Se analisarmos o modo como a questão se formula, entrando para a agenda pública – expressa até mesmo nos dois primeiros parágrafos deste ensaio –, é o tema do congestionamento que se constitui como questão e tema na agenda das políticas, com força muito