Mito e Racionalidade
Itamar Luís Hammes
RESUMO: Mesmo que vivamos aparentemente numa época da razão não é menos certo que as questões sobre o mito interessam agora mais do que nunca. Porém, tratar do mito hoje implica, necessariamente, confrontá-lo com o pensamento racional, com a ciência e a técnica.
Uma filosofia do mito deve necessariamente abordar a pergunta: Que papel desempenha o mito em uma sociedade dominada pela razão científica? Um autor que discute este tema é
Hans-Georg Gadamer em seu livro Mito e razão. Gadamer mostra a tensão que o pensamento ocidental tem experimentado desde o mundo grego entre mito e logos, entre imagem e conceito. O positivismo havia atribuído ao mito uma falsa especulação. No entanto, o mito tem sua própria riqueza e credibilidade e por isso deve ser uma tarefa propriamente filosófica fazer justiça a esta dimensão do mito. Trata-se de compreender a palavra, a linguagem, em toda sua complexidade para tratar o fenômeno mítico sem abandonar o logos. Se é certo, como sustenta Gadamer, que não há cultura sem horizonte mítico, é necessário situar o mito na época da ciência, porque sem o mito resulta impossível compreender a complexidade do mundo contemporâneo.
Questões introdutórias
Em uma época como a nossa, onde a ciência e a tecnologia de certa forma determinam a vida das pessoas, falar do mito parece não ter muito sentido. Talvez seria mais apropriado falar em razão ou logos. Afinal, a promessa de um mundo desencantado, parece ter se confirmado. Gadamer, porém, acredita que o mito tem uma tarefa filosófica. O mito, assim como a arte e a religião são campos da experiência humana que seguem iluminando existencialmente o homem e não devem ser ignorados pela hermenêutica.
Para Gadamer há uma tensão no pensamento ocidental entre o mito e o logos que remonta ainda aos gregos. O positivismo havia atribuído ao mito uma falsa