mito tragédia e filosofia
1. Mito, tragédia e filosofia
Uma das características da consciência mítica é a aceitação do destino: os costumes dos ancestrais têm raízes no sobrenatural; as ações humanas são determinadas pelos deuses; em conseqüência, não podemos falar propriamente em comportamento ético, por faltar a dimensão de subjetividade que caracteriza o ato livre e autônomo.
Ao analisarmos a passagem do mito à razão na Grécia Antiga, vemos como se dá o desenvolvimento da consciência crítica. Resta, no entanto, um lapso intermediário caracterizado pela consciência trágica, que representa o momento em que o mito não foi totalmente superado e ainda nio se firmou a consciência filosófica. A tragédia grega floresceu por curto período, e os autores mais famosos foram Esquilo (525-456 a.C.), Sófocles (496-c 406 a.C.) e Eurípedes (c. 480-406 a.C.). O conteúdo das peças é retirado dos micos, mas há algo de novo no tratamento dado pelos autores — sobretudo Sófocles — ao relato das façanhas dos heróis.
Tornemos por exemplo a tragédia Edipo-Rei de Sófocles. Nela conta-se que Laio, senhor de Tebas, soube pelo oráculo que seu filho recém-nascido haveria de assassiná-lo, casando-se em seguida com a própria mãe. Laio antecipa-se ao destino e manda matar o filho, mas suas ordens não são cumpridas, e a criança cresce em lugar distante. Quando adulto, Édipo consulta o oráculo e, ao tomar conhecimento do destino que lhe fora reservado, foge da casa daqueles que supunha ser seus verdadeiros pais a fim dê evitar o cumprimento daquela sina. No caminho desentende-se com um estranho — e o inata. Esse desconhecido era, na verdade, seu pai. Encran do em Tebas, Édipo se casa com Jocasta, viúva de Laio, ignorando ser ela sua mãe. E assim se cumpre o destino.
Mesmo que Sófocles tenha tomado do mito o enredo da história, as figuras lendárias apresentam-se com a face humanizada, agitam-se e questionam o destino. A todo momento emerge a força nova da vontade que se recusa a