Minha doce cecília
Carlos Correia Santos
A cama rangia como quase a gritar. Aqueles lençóis já estavam extasiados com tantos movimentos pélvicos. Antunes e sua amante pareciam dois animais afoitos. Qual o fim do mundo fosse dali a pouco, o orgasmo urgia violentamente. Qual o fim do mundo... Qual o fim da vida... A morte...
Sexo é vida!...
Um motel vagabundo era aquele. Mas os motéis, todos eles, são sempre templos. Altares em que se misturam, de modo ritualista, inúmeras seivas. Subitamente, a porta do quarto foi aberta. Antunes e sua amante – nus, miseravelmente nus – encolhem-se num canto da cama... Antunes arregala os olhos! À sua frente, a visão do inferno!.... À sua frente, estatelada à porta, ladeada por alguém... à sua frente, sua amada esposa!...
Cecília, acompanhada de Marina – uma amiga de infância –, Cecília lançou um olhar gelado sobre Antunes... Apenas sobre Antunes... E não usou mais do que quatro palavras:
- Espero você em casa.
E Cecília, seguida por uma perplexa Marina... Cecília se foi... Mas o nosso conto, de fato, começa horas depois deste lamentável ocorrido, quando Antunes – após quase esvaziar o tanque do carro, de tanto rodar, à toa, pela cidade – finalmente chega em casa. O homem estava um trapo, um lixo. Roupa desgrenhada, cabelo desalinhado, um suor frio a varrer-lhe o corpo. Puro desespero. Foi entrando, hesitante, em seu adorável lar. A sala, à meia luz... O corredor que levava ao quarto...
O quarto!...
Ela devia estar lá, intuiu. Devia estar arrasada sobre a cama. Baixou a cabeça e chorou. Sua amada Cecília não merecia o que fizera. Dentre todas as mulheres boas do mundo, ela era a mais doce e mais frágil e mais companheira e mais... Não!... Ainda não seguiria para o quarto. Precisava de uma dose extra de coragem. Decidiu encaminhar-se à cozinha. Lá, bebericaria um cachacinha e só depois... Ah, só depois... Acontece que, ao chegar à cozinha, Antunes quase desmaiou. Sobre a mesa do recinto havia um